sábado, 30 de março de 2013

Nada acontece por acaso. De certa maneira, todos que aparecem em nossa vida são pessoas com quem temos karma.


A única razão de conhecermos alguém é por que existe um laço kármico.

Mas uma relação kármica é quando temos elos fortes e predestinados. Sabemos que estamos em uma relação kármica quando, de uma maneira inexplicável, somos atraídos por uma pessoa ou quando alguém tem uma forte influência sobre nós. Às vezes, esse relacionamento kármico é tão poderoso que mesmo que a pessoa tente sair dessa relação, ela não consegue.

Como disse a professora de Yoga Sally Kempton: "Se é romance, paixão à primeira vista pode ser um sinal de que uma relação kármica está em jogo. Mais frequentemente do que não, o sentimento de se apaixonar é o gancho que o coloca no lugar para o karma se resolver. Depois de anos de desgaste, você pode se perguntar por que você chegou a essa situação com seu parceiro. A resposta pode ser: vocês tinham algo para trabalhar juntos. Do ponto de vista yóguico, karma é o imã que une as pessoas e a cola que as mantêm".

Outra definição de karma é quitar "dívidas" '. Em alguns relacionamentos kármicos, pode haver um sentido de obrigação, como se devêssemos algo a alguém ou alguém devesse algo para nós.

Existem ciclos que começam e terminam e algumas pessoas desaparecem de nosso convívio por muitos motivos. Geralmente, quando a pessoa quita seu karma em um relacionamento difícil, ela tem a escolha de sair dessa relação.

Devido ao sentimento de baixa autoestima, do medo de ficar só, de apegos, de não querer dividir os bens, muitos casais não se separam e ficam juntos, sofrendo e criando mais karmas, com brigas e mágoas. Porém, é necessário muito discernimento, autoconhecimento, autoestima, responsabilidade e compreensão para entender se um relacionamento kármico pode terminar.

Precisamos entender que não estamos juntos por acaso, mas que existe um motivo kármico, uma lição para aprendermos, e que temos um compromisso com algumas pessoas.

Muitas relações kármicas são para a vida toda e devemos aceitá-las com paciência. É essencial mudar nossos pensamentos e atitudes para amenizar os conflitos. Se existem aspectos negativos em alguns relacionamentos kármicos com cônjuges, filhos, parentes, chefe, amigos, companheiros no trabalho, é importante fazer escolhas positivas que quebrem os velhos ciclos.

Todos aqueles que são especiais em nossa vida, principalmente os mais queridos, são parte de nossa 'turma' kármica. Podemos estar juntos há muito tempo, por muitas vidas.

Desse modo, precisamos descobrir quais os passos para as mudanças necessárias para melhor convívio, para ajudar-nos mutuamente, resgatando e mudando os efeitos do karma.

Segundo a filosofia do yoga, para mudar nossos karmas negativos precisamos nos comportar de maneira ética, desenvolvendo virtudes e qualidades positivas que nos alinhem com a força positiva do universo. Vivenciar a não violência em nossos pensamentos, palavras e ações.

Mudar nosso karma inclui também a maneira como vivemos o dia a dia. Precisamos trocar os padrões mentais negativos e comportamentos que alimentam os karmas antigos. Cada ação que fazemos com generosidade, bondade, compaixão afeta tanto a nós quanto aos outros.

Quando aprendemos as lições do karma, nós nos transformamos para melhor e nossa transformação pessoal ajuda a transformar as pessoas perto de nós e o ambiente.

Devemos mudar a nós mesmos, mas não devemos tentar mudar o karma das pessoas. Interferir no karma delas é criar mais karma para nós. Podemos ajudá-las a superar seus desafios e problemas sem julgá-las ou condená-las, dando espaço para que trabalhem internamente seus karmas e se libertem.

Com boas atitudes diárias, você pode semear pequenas mudanças em sua vida. Comece seu dia com uma intenção positiva de ser útil e compreensivo. Esteja mais presente com todos que encontrar, ouça-os com mais paciência. Observe como essas intenções conduzirão seu dia.

O yoga nos ensina que perdemos muitos méritos através da fala. Portanto, antes de fazer uma crítica, antes de ofender ou brigar, controle-se e pense por que está fazendo isso. Procure pensar antes de falar.

Descubra que sentimentos escondidos estão gerando essas críticas. Lembre-se do que disse Emanuel, através de Chico Xavier: "Se não puder elogiar, cale-se".

Ajudar aos outros, com solidariedade, boa vontade e bondade pode diminuir os karmas passados ou amenizar seus efeitos sobre nossa vida.

Faça algo gentil todos os dias. Tenha paciência com seus filhos, ouvindo-os com atenção. Seja amável com seu cônjuge desde o café da manhã, falando com gentileza e estando presente para seus familiares.

Seja atencioso com seus companheiros de trabalho. Dê um sorriso de bom dia para o zelador e faxineiro do seu prédio. Trate sua empregada doméstica ou funcionárias com delicadeza e compreensão.

Recolha o lixo na praia ou ao seu redor. Recicle, conscientize-se da importância de economizar água e não poluir a natureza e o ambiente.

Com motivação, mude seus hábitos ruins. Decida se alimentar de maneira bem saudável e decida que não cederá a hábitos alimentares errados no seu dia a dia. Liberte-se da preguiça de se exercitar e faça caminhadas. Pratique yoga e leve suas práticas do yoga para sua vida diária.

Segundo a filosofia do yoga, se você quiser saber como será seu futuro, sua saúde, seus relacionamentos, sua situação financeira, observe o que está pensando, falando e fazendo agora.

Como disse o yogue Deepak Chopra: "Segundo a lei do karma ou de causa e efeito, toda ação gera uma força energética que retorna a nós da mesma forma. O que semeamos é o que colhemos. Quando escolhemos ações que levam felicidade e sucesso aos outros, o fruto de nosso karma é a felicidade e o sucesso".

Compreenda que você é o resultado do que faz e que cada pensamento molda sua vida. Mude seu karma mudando sua maneira de viver seu dia a dia. Faça boas escolhas e troque os padrões que mantinham os velhos karmas. Aplique as lições do karma para sua evolução espiritual. Fique em paz! Namaste! Deus em mim saúda Deus em você!
TERAPEUTA HOLÍSTICA E MESTRE EM REIKI III

- Bachelet disputará eleição presidencial do Chile



primeira mulher presidente do Chile, Michelle Bachelet, afirmou que vai concorrer na disputa presidencial para o mandato que durará entre 2014 e 2018.

Bachelet foi presidente entre 2006 e 2010 com um índice de aprovação histórico de mais de 80% e, apesar de ter mantido em silêncio suas intenções de concorrer novamente, ela estava liderando as intenções de votos dos eleitores.
"Com muita felicidade, determinação e muita humildade, eu decidi me candidatar", disse Bachelet na abertura de uma galeria municipal em El Bosque.
A constituição do Chile proíbe reeleições presidenciais e, durante grande parte do mandato do presidente Sebastián Piñera, Bachelet atuou como diretora executiva para a ONU Mulheres.
Tanto a coalizão conservadora quanto a de centro-esquerda devem realizar primárias em 30 de junho.
A coalizão Concertación, que estava no poder desde o retorno à democracia, em 1990, até sua derrota para Piñera nas eleições de 2009, tem vários candidatos que podem correr contra Bachelet nas primárias. Entre os nomes da coalizão de centro-esquerda estão Claudio Orrego, ex-ministro da Habitação, e Antonio Jose Gomez, presidente do Partido Radical e ex-ministro da Justiça.
Entre os conservadores, Laurence Golborne, que liderou o resgate de 33 mineiros presos sob o deserto do Atacama em 2010, e Andres Allamand, ex-ministro da Defesa, devem competir para representar sua coalizão.
A eleição presidencial deve ocorrer no dia 17 de novembro. O segundo turno, se nenhum candidato conquistar 50% mais um voto em novembro, está previsto para 15 de dezembro. As informações são da Dow Jones.

Saul Leblon: Dilma enfrenta a pátria rentista; mídia uiva


Uma dia de estupefação e revolta no circuito formado pelos professores banqueiros, os consultores e a mídia que os vocaliza.

Por Saul Leblon, na Carta Maior


Na reunião dos Brics, na África do Sul, nesta quarta-feira (27), a presidenta Dilma afirmou que não elevará a ração dos juros reivindicada pelos batalhões rentistas, a pretexto de combater a inflação. 

A reação instantânea das sirenes evidencia a cepa de origem a unir o conjunto à afinada ciranda de interesses que arrasta US$ 600 trilhões em derivativos pelo planeta. 

Equivale a dez voltas seguidas no PIB da Terra. Trinta e cinco vezes o movimento das bolsas mundiais. 

Os anéis soturnos desse garrote reúnem – e exercem – um poder de extorsão planetária, capaz de paralisar governos e asfixiar nações. Gente que prefere blindar automóveis a investir em infraestrutura. O Brasil tem a maior frota de carros blindados do mundo. 

E uns R$ 500 bi estocados em fundos de curto prazo; fora o saldo em paraísos fiscais. Carros blindados, dinheiro parado, paraísos fiscais e urgências de investimento formam a determinação mais geral da luta política em nosso tempo.

Em Chipre, como lembra o correspondente de Carta Maior em Londres, Marcelo Justo, o capital a juros compunha uma bocarra equivalente a 67 bilhões de euros, uns US$ 90 bilhões de dólares. Três vezes o PIB. De um país com população menor que a de Campinas. 

A fome pantagruélica desse organismo requeria rações diárias indisponíveis no ambiente retraído da crise mundial. A gula que quebrou Chipre é a mesma que já havia quebrado a Espanha, Portugal, Irlanda, Islândia e alquebrado o mercado financeiro dos EUA. A falência cipriota assusta o mundo do dinheiro não por suas dimensões. 

Mas porque ressoa o uivo cavernoso de uma bancarrota, só anestesiada a um custo insustentável na UTI mundial das finanças desreguladas. No Brasil o mesmo uivo assume o idioma eleitoral ao gosto do dinheiro graúdo: "dá para fazer mais".

O governo Dilma acha que sim. 

Mas com a expansão do investimento produtivo. Não com arrocho e choque de juros. O país ampliado por 12 anos de políticas progressistas na esfera da renda e do combate à pobreza, não cabe mais na infraestrutura concebida para 30% de sua gente. 

A desproporção terá que ser ajustada em algum momento. Como o foi, com viés progressista e investimento pesado, durante o ciclo Vargas. Sobretudo no segundo Getúlio, nos anos 1950. Mas também o foi em 1964.

Em versão regressiva feita de arrocho e repressão contra as reformas de base de Jango, no golpe que completa 49 anos neste 31 de março. O que se assiste hoje guarda uma diferença política importante em relação ao passado.

Nos episódios anteriores, o conflito de classe entre as concepções antagônicas de desenvolvimento seria camuflado pela vulnerabilidade externa da economia.

Um Brasil estrangulado pelo desencontro entre a anemia das exportações e o financiamento das importações colidia precocemente com o seu teto de crescimento. O gargalo do investimento se realimentava no funil das contas externas. E vice versa.

Era um prato cheio para o monetarismo posar de arauto dos interesses da Nação. E golpeá-la, com as ferramentas recessivas destinadas a congelar o baile. "Quem está fora não entra; quem está dentro não sai". Durante séculos, essa foi a regra do clube capitalista brasileiro.

Hoje, embora a pauta exportadora se ressinta de temerária concentração em commodities, não vem daí o principal obstáculo ao investimento. 

O país dispõe de reservas recordes (US$ 370 bi). Tem crédito farto no mercado internacional. O relógio econômico intertemporal é favorável ao financiamento de um ciclo pesado de investimentos em infraestrutura.

Quem, afinal, veria risco em financiar a sétima economia do planeta, que, em menos de uma década, estará refinando a pleno vapor as maiores descobertas de petróleo do século 21?

O desencontro entre o Brasil que somos e aquele que podemos ser deslocou-se do gargalo externo, dos anos 1950/60/80 para o conflito aberto entre os interesses da maioria da sociedade e os dos detentores do capital a juro.

Assim como em Chipre, na Espanha, nos EUA ou em Paris, o rentismo aqui prefere repousar num colchão de juros reais generosos, blindado por esférico monetarismo ortodoxo. 

Migrar para a esfera do investimento produtivo, sobretudo de longo prazo, como requer o país agora, não integra o seu repertório de escolhas espontâneas.

É essa prerrogativa estéril que os professores banqueiros do PSDB cobram pela boca e pelo teclado do jornalismo econômico, escandalizado com a assertiva defesa do desenvolvimento feita pela presidenta Dilma. Presidenciáveis risonhos que se oferecem untados em molhos palatáveis às papilas monetaristas e plutocráticas vão aderir ao jogral. 

“Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença está datado; é uma política superada", fuzilou Dilma.

Previsível, o dispositivo midiático tentou desqualificar o revés como se fora uma demonstração de ‘negligência com a inflação’. Um governo que trouxe 50 milhões de pessoas para o mercado de consumo minimizaria a vigilância sobre a inflação? Seria o mesmo que sacar contra o seu maior patrimônio político. 

O governo Dilma optou por abortar as pressões de preços de curto prazo com desonerações. E enfrentar o desequilíbrio estrutural com um robusto ciclo de investimentos. São lógicas dissociadas da receita rentista.

Aqui e alhures, a obsessão mórbida pela liquidez descolou-se da esfera patrimonial para a dos rendimentos financeiros. Não importa a que custo social ou político. Sua característica fundamental é a preferência parasitária pelo acúmulo de direitos sobre a riqueza, sem o ônus do investimento físico na economia.

A maximização de ganhos se faz à base da velocidade e da mobilidade dos capitais, sendo incompatível com o empenho fixo em projetos de longa maturação em ferrovias, hidrelétricas ou portos.

Durante a década de 1990, as mesmas vozes que hoje disparam contra o que classificam como "intervencionismo da Dilma", colocaram o Estado brasileiro a serviço dessa engrenagem.

A ração dos juros oferecida no altar da rendição nacional chegou a 45%, em 1999. Um jornalismo rudimentar no conteúdo, ressalvadas as exceções de praxe, mas prestativo na abordagem, impermeabilizou essa receita de Estado mínimo com uma camada de verniz naval de legitimidade incontrastável.

A supremacia dos acionistas e dos dividendos sobre o investimento –e a sociedade-- tornou-se a regra de ouro do noticiário econômico. Ainda é.

A crise mundial instaurou a hora da verdade nessa endogamia entre o circuito do dinheiro e o da notícia.

Trata-se de uma crise dos próprios fundamentos daquilo que o conservadorismo entende como sendo ‘os interesses dos mercados’. Que a mídia equipara aos de toda a sociedade.

Dilma, de forma elegante, classificou essa ilação como uma fraude datada e vencida. De um mundo que trincou e aderna, desde setembro de 2008.

A pátria rentista uiva, range e ruge diante de tamanha indiscrição.


Muro da vergonha construído por Israel isola e cerca palestinos



Às vésperas do Dia da Terra na Palestina, pesquisa revela o impacto negativo do Muro do Apartheid, que priva mais de 50 mil moradores de Jerusalém de morar na cidade


Um relatório de monitoramento divulgado pelo Escritório Central de Estatísticas, na quinta-feira (28), às vésperas do Dia da Terra, revela a lista de violações israelenses contra o povo palestino e sua terra nos últimos anos.

O relatório apontou que a ocupação israelense, de acordo com a Fundação Almaqdisi, demoliu, de 2000 a 2012, 1.124 edifícios em Jerusalém Oriental, o que resultou no deslocamento de 4.966 civis da cidade, incluindo 2586 crianças e 1.311 mulheres.

A pesquisa apontou também que o total das perdas sofridas pelos palestinos em decorrência das demolições em Jerusalém chegou a três milhões de dólares, e a informação não inclui os gastos que os moradores prejudicados têm com as cobranças financeiras impostas por lei israelense com base no que é chamado de “violação de construção”, considerando as moradias palestinas como construções irregulares.

De acordo com dados de organizações israelenses de direitos humanos, as autoridades da ocupação demoliram cerca de 25 mil casas na Palestina desde 1967, alertando para um aumento da frequência de “autodemolições” de casas desde 2000, período em que 303 cidadãos foram obrigados a demolir as suas casas por conta própria, assumindo, inclusive, os gastos para a execução. No ano de 2010, houve o maior percentual de “autodemolição”, alcançando o número de 70 casos de demolição. No ano de 2009, houve 49 casos de demolição, e no ano de 2011, foram registrados 20 casos de autodemolição, enquanto no mesmo período, em 2012, houve 14 casos.

Apesar de ser um importante relatório e com resultados credíveis e oficiais, de acordo com a Fundação Maqdasi, o documento alerta que há também vários outros casos de autodemolição reticente pela população, e que portanto se enquadram nos casos em que não são informados ou contabilizados pelos meios de comunicação, instituições de direitos humanos e organizações da sociedade civil.

Enquanto os palestinos constituem 30% da população em Jerusalém, eles pagam 40% do valor dos impostos cobrados pela Prefeitura da ocupação e, em troca, o município gasta apenas 8% em serviços prestados aos cidadãos palestinos.

Segundo o relatório, metade dos colonos vive no distrito de Jerusalém. O número de postos de assentamentos e bases militares israelenses, no final de 2012, na Cisjordânia, era de 482 postos. O número de colonos, na mesma região, chegou a 536.932 até o final do ano de 2011.

A partir dos dados publicados, nota-se que 49,8% dos colonos vivem no distrito de Jerusalém, onde formam um grupo de cerca de 267.643 pessoas, das quais 199.647 vivem na região de Jerusalém Oriental. Na Cisjordânia, há 21 colonos para cada 100 palestinos e, no distrito de Jerusalém, cerca de 68 colonos para cada 100 palestinos.

Outro ponto analisado pela pesquisa são os prejuízos dos cidadãos que convivem com a expansão diária do muro de separação étnica, explicando que a construção proíbe mais de 50 mil titulares de identidade de Jerusalém de residir na cidade.

Segundo dados do Instituto (Arij) de Pesquisa Aplicada o muro ainda deve se expandir até o muro de anexação, e avançar cerca de 780 quilômetros de distância. A obra já foi construída em 61%.

Estima-se de acordo com o traçado do muro, que a área dos territórios palestinos isolada e sitiada entre o muro e as fronteiras de 1948 aumentou cerca de 680 quilômetros quadrados no ano de 2012, representando cerca de 12% de comprimento na Cisjordânia, dos quais cerca de 454 km² são campos agrícolas, pastagens e áreas abertas,117 km² inexplorados como assentamentos e bases militares, e 89 km² de florestas, além dos 20 km² de terra com construções palestinas.

O muro isola permanentemente cerca de 37 localidades habitadas por mais de 300 mil pessoas, e concentra-se a maioria das congregações em Jerusalém por 24 localidades habitadas por mais de 250 mil pessoas. O muro também priva mais de 50 mil titulares de identidade de Jerusalém de acesso e de residência em Jerusalém, e cerca 173 localidades habitadas por mais de 850 mil habitantes, região da cidade de Qalqilya.

O relatório mostrou que cerca de 11,8 milhões de pessoas viviam na Palestina histórica no ano de 2012, em área de cerca de 27.000 km², e que os judeus constituiam 51% da população total, e exploravam mais de 85% da área total, enquanto o percentual de palestinos era de 49% do total da população e exploravam cerca de 15% da área de terra. Tais dados levam à conclusão de que o indivíduo palestino tem direito a menos de um quarto do espaço da terra que o colono israelense.

No ano de 2012, houve um feroz ataque aos territórios palestinos, quando tomaram mais de 24 mil hectares de terra para confisco, escavações ou queimadas, e mais de 13 mil árvores frutíferas destruídas. Isso significa agressão ao meio ambiente palestino, bem como as autoridades de ocupação anunciaram a ratificação do estabelecimento de mais de 36 mil unidades habitacionais concentradas em assentamentos nas proximidades de Jerusalém.

Em março de 2012, o número de prisioneiros palestinos em prisões e cadeias israelenses chegou a 4.900 prisioneiros, incluindo 167 presos administrativo, 12 mulheres, 235 crianças, cerca de 300 pacientes prisioneiros, incluindo 14 internados em hospitais, 14 deputados e três ex-ministros, além de 105 prisioneiros detidos antes do acordo de Oslo, incluindo 76 prisioneiros que estão há mais de 20 anos encarcerados e 25 prisioneiros que passaram mais de 25 anos aprisionados.

Com informações da Agência Palestina de Notícias WAFA

quinta-feira, 28 de março de 2013

Mulheres sofrem violência no parto


(Pública) Eu tive meu filho em um esquema conhecido por profissionais da área da saúde como o limbo do parto: um hospital precário, porém maquiado para parecer mais atrativo para a classe média, que atende a muitos convênios baratos, por isso está sempre lotado, não é gratuito, mas o atendimento lembra o pior do SUS, porém sem os profissionais capacitados dos melhores hospitais públicos nem a infraestrutura dos hospitais caros particulares para emergências reais. Durante o pré-natal, fui atendida por plantonistas sem nome. Também não me lembro do rosto de nenhum deles. O meu nome variava conforme o número escrito no papel de senha da fila de espera: um dia eu era 234, outro 525. Até que, durante um desses “atendimentos” a médica resolveu fazer um descolamento de membrana, através de um exame doloroso de toque, para acelerar meu parto, porque minha barriga “já estava muito grande”. Saí do consultório com muita dor e na mesma noite, em casa, minha bolsa rompeu. Fui para o tal hospital do convênio já em trabalho de parto.
Quando cheguei, me instalaram em uma cadeira de plástico da recepção e informaram meus acompanhantes que eu deveria procurar outro hospital porque aquele estava lotado. Lembro que fazia muito frio e eu estava molhada e gelada, pois minha bolsa continuava a vazar. Fiquei muito doente por causa disso. Minha mãe ameaçou ligar para o advogado, disse que processaria o hospital e que eu não sairia de lá em estágio tão avançado do trabalho de parto. Meu pai quis bater no homem da recepção. Enquanto isso, minhas contrações aumentavam. Antes de ser finalmente internada, passei por um exame de toque coletivo, feito por um médico e seus estudantes, para verificar minha dilatação. “Já dá para ver o cabelo do bebê, quer ver pai?” mostrava o médico para seus alunos e para o pai do meu filho. Consigo me lembrar de poucas situações em que fiquei tão constrangida na vida. Cerca de uma hora depois, me colocaram em uma sala com várias mulheres. Quando uma gritava, a enfermeira dizia: “pare de gritar, você está incomodando as outras mães, não faça escândalo”. Se eu posso considerar que tive alguma sorte neste momento, foi o de terem me esquecido no fim da sala, pois não me colocaram o soro com ocitocina sintética que acelera o parto e aumenta as contrações, intensificando muito a dor. Hoje eu sei que se tivessem feito, provavelmente eu teria implorado por uma cesariana, como a grande maioria das mulheres.
Não tive direito a acompanhante. O pai do meu filho entrava na sala de vez em quando, mas não podia ficar muito para preservar a privacidade das outras mulheres. A moça que gritava pariu no corredor. Até que uma enfermeira lembrou de mim e me mandou fazer força. Quando eu estava quase dando a luz, ela gritou: “pára!” e me levou para o centro cirúrgico. Lá me deram uma combinação de anestesia peridural com raquidiana, sem me perguntar se eu precisava ou gostaria de ser anestesiada, me deitaram, fizeram uma episotomia (corte na vagina) sem meu consentimento – procedimento desnecessário na grande maioria dos casos, segundo pesquisas da medicina moderna – empurraram a minha barriga e puxaram meu bebê em um parto “normal”. Achei que teria meu filho nos braços, queria ver a carinha dele, mas me mostraram de longe e antes que eu pudesse esticar a mão para tocá-lo, levaram-no para longe de mim. Já no quarto, tentei por três vezes levantar para ir até o berçario e três vezes desmaiei por causa da anestesia. “Descanse um pouco mãezinha” diziam as enfermeiras “Sossega!” Eu não queria descansar, só estaria sossegada com meu filho junto de mim! O fotógrafo do hospital (que eu nem sabia que estava no meu parto) veio nos vender a primeira imagem do bebê, já limpo, vestido e penteado. Foi assim que eu vi pela primeira vez o rostinho dele, que só chegou para mamar cerca de 4 horas depois.
Faz exatamente nove anos que tudo isso aconteceu e hoje é ainda mais doloroso relembrar porque descobri que o que vivi não foi uma fatalidade, ou um pesadelo: eu, como uma a cada quatro mulheres brasileiras, fui vítima de violência obstétrica.
UMA EM CADA QUATRO MULHERES SOFRE VIOLÊNCIA NO PARTO
O conceito internacional de violência obstétrica define qualquer ato ou intervenção direcionado à mulher grávida, parturiente ou puérpera (que deu à luz recentemente), ou ao seu bebê, praticado sem o consentimento explícito e informado da mulher e/ou em desrespeito à sua autonomia, integridade física e mental, aos seus sentimentos, opções e preferências. A pesquisa “Mulheres brasileiras e Gênero nos espaços público e privado”, divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, mostrou que uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto. As mais comuns, segundo o estudo, são gritos, procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação, falta de analgesia e até negligência.
Mas há outros tipos, diretos ou sutis, como explica a obstetriz e ativista pelo parto humanizado Ana Cristina Duarte: “impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência, tratar uma mulher em trabalho de parto de forma agressiva, não empática, grosseira, zombeteira, ou de qualquer forma que a faça se sentir mal pelo tratamento recebido, tratar a mulher de forma inferior, dando-lhe comandos e nomes infantilizados e diminutivos, submeter a mulher a procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes, como lavagem intestinal, raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas, submeter a mulher a mais de um exame de toque, especialmente por mais de um profissional, dar hormônios para tornar o parto mais rápido, fazer episiotomia sem consentimento”.
“A lista é imensa e muitas nem sabem que podem chamar isso de violência. Se você perguntar se as mulheres já passaram por ao menos uma destas situações, provavelmente chegará a 100% dos partos no Brasil” diz Ana Cristina, que faz parte de um grupo cada vez maior de mulheres que, principalmente através de blogs e redes sociais, têm lutado para denunciar a violência obstétrica tão rotineira e banalizada nos aparelhos de saúde.
“Algumas mulheres até entendem como violência, mas a palavra é mais associada a violência urbana, fisica, sexual” diz a psicóloga Janaína Marques de Aguiar, autora da tese “Violência institucional em maternidades públicas: hostilidade ao invés de acolhimento como uma questão de gênero” que entrevistou puérperas (com até três meses de parto) e profissionais de maternidades públicas de São Paulo. “Quando a gente fala em violência na saúde, isso fica dificil de ser visualizado. Porque há um senso comum de que as mulheres podem ser maltratadas, principalmente em maternidades públicas” acredita. E dá alguns exemplos: “Duas profissionais relataram, uma médica e uma enfermeira, que um colega na hora de fazer um exame de toque em uma paciente, fazia brincadeiras como ‘duvido que você reclame do seu marido’ e ‘Não está gostoso?”
Em março de 2012, um grupo de blogueiras colocou no ar um teste de violência obstétrica, que foi respondido de forma voluntária por duas mil mulheres e confirmou os resultados da pesquisa da Fundação Perseu Abramo. “Apesar de não terem valor científico, os resultados mostraram que 51% das mulheres estava insatisfeita com seu parto e apenas 45% delas disse ter sido esclarecida sobre os todos os procedimentos obstétricos praticados em seus corpos” lembra a jornalista mestre em ciências Ana Carolina Franzon, uma das coordenadoras da pesquisa. “Nós quisemos mostrar para outras mulheres que aquilo que elas tinham como desconforto do parto era, na verdade, a violação de seus direitos. Hoje nós somos protagonistas das nossas vidas e quando chega no momento do parto, perdemos a condição de sujeito” opina Ana Carolina.
Desse teste nasceu o documentário “Violência Obstétrica – A voz das brasileiras” (que você pode assistir no fim da matéria) com depoimentos gravados pelas próprias mulheres sobre os mais variados tipos de humilhação e procedimentos invasivos vividos por elas no momento do parto. Uma das participantes diz que os profissionais fizeram comentários “sobre o cheiro de churrasco da barriga durante a cesárea”.
Mas talvez o relato mais triste seja o da mineira Ana Paula, que após planejar um parto natural, foi ao hospital com uma complicação e, sem qualquer explicação por parte dos profissionais, foi anestesiada, amarrada na cama, mesmo sob protestos, submetida a episiotomia, separada da filha, largada por várias horas em uma sala sem o marido e sem informações. Seu bebê não resistiu e faleceu por causas obscuras. Ana Paula denunciou o falecimento de sua filha ao Ministério da Saúde pedindo uma investigação e em paralelo denunciou a equipe, convênio médico e o hospital que a atenderam ao CRM de Belo Horizonte. Diante do silêncio do Conselho, que abriu uma sindicância em novembro de 2012 e não forneceu mais informações, a advogada de Ana Paula, Gabriella Sallit, entrou com uma ação na justiça.
“O processo da Ana Paula foi o primeiro que trata a violência obstetrica nestes termos. Não é um processo contra erro médico, ou pelo fim de uma conduta médica. É sobre o procedimento, a violência no tratar. É um marco porque é o primeiro no Brasil” explica a advogada. “É uma ação de indenização por dano moral que lida com atos notoriamente reconhecidos como violência obstétrica. Tudo isso tem respaldo na nossa legislação”, diz.
Para prevenir a violência no parto, infelizmente comum, a advogada aconselha que as mulheres escrevam uma carta de intenções com os procedimentos que aceitam e não aceitam durante a internação. “Faça a equipe assinar assim que chegar ao hospital. E antes de sair do hospital, requisite seu prontuário e o do bebê. É um direito que muitas mulheres desconhecem. Isso é mais importante do que a mala da maternidade, fraldas e roupas. Estamos falando de algo que pode te marcar para o resto da vida”.
DIREITOS LEGAIS DESRESPEITADOS NAS MATERNIDADES
Além do nosso código penal e dos vários tratados internacionais que regulam de forma geral os direitos humanos e direitos das mulheres em especial, a portaria 569 de 2000 do Ministério da Saúde, que institui o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento do SUS, diz: “toda gestante tem direito a acesso a atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto e puerpério” e “toda gestante tem direito à assistência ao parto e ao puerpério e que esta seja realizada de forma humanizada e segura” e a LEI Nº 11.108, DE 7 DE ABRIL DE 2005 garante às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato nos hospitais do SUS. Mas dificilmente essas normas são seguidas, como explica a pesquisadora Simone Diniz (leia entrevista na íntegra), formada em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo, que participou da pesquisa “Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento”, grande e minucioso panorama realizado pela Fiocruz em parceria com o Ministério da Saúde – ainda sem data para lançamento.
“O parto é muito medicalizado e muito marcado pela hierarquia social da mulher no Brasil. Para algumas questões de saúde, como para quem tem HIV, precisa de um antiretroviral ou de uma cirurgia, você tem o mesmo procedimento público e privado, existe um padrão do que é considerado como aceitável. Para o parto não. A assistência ao parto para as mulheres de menor renda e escolaridade e para aquelas que o IBGE chama de pardas e negras, é muito diferente das mulheres escolarizadas, que estão no setor privado, pagantes. Normalmente as mulheres de renda mais baixa têm uma assistência que não dá nenhum direito a escolha sobre procedimentos. Os serviços atendem essas mulheres para um parto vaginal com várias intervenções que não correspondem ao padrão ouro da assistência, como ficar sem acompanhante e serem submetidas a procedimentos invasivos que não deveriam ser usados a não ser com extrema cautela, como o descolamento das membranas, que é muito agressivo, doloroso, aumenta o risco de lesão de colo e infecções, a ruptura da bolsa, como aceleração do parto. É uma ideia de produtividade que parte do pressuposto que o parto é um evento desagrádavel, degradante, humilhante, repulsivo, sujo e que portanto aquilo deve ser encurtado. No setor público é pior, mas é preciso levar em conta que no setor privado, 70% das mulheres nem entra em trabalho de parto, vão direto para cesarianas eletivas”.
CESARIANA DESNECESSÁRIA: MAIS UMA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
A imposição de uma cesariana desnecessária também tem sido vista pelos pesquisadores e pelas próprias mulheres como uma forma de violência porque além de um procedimento invasivo, oferece mais riscos a curto e longo prazo para a mãe e o bebê. “Hoje nós sabemos que existe muito mais segurança nos partos fisiológicos do que nas cesáreas. Não tenha dúvidas de que elas são um recurso importante que salva vidas quando realmente necessárias. Mas no parto fisiológico o bebê tem menor chance de ir para uma UTI neonatal, de ter problemas respiratórios, metabólicos, infecções, tem o melhor prognóstico de todos” explica Simone Diniz. “O bebê nasce estéril e a medida que ele entra em contato com as bactérias da vagina durante o parto, é colonizado por elas e isso fará com que ele desenvolva um sistema imune muito mais saudável do que se nascer de cesárea e for contaminado por bactérias hospitalares. Esse é conhecimento recente, mas já saíram pesquisas sobre risco diferenciado de asma, diabete, obesidade e uma série de doenças crônicas”.
Apesar do índice máximo de cesarianas aconselhado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ser o de 15%, o Brasil lidera o ranking na América Latina, segundo a Unicef, com mais de 50% de nascimentos através da cirurgia. O índice sobe consideravelmente quando se olha apenas para os hospitais particulares. Em 2010, 81,83% das crianças que nasceram via convênios médicos, vieram ao mundo por cesarianas. Em 2011, o número aumentou para 83,8%, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Há ainda hospitais particulares como o Santa Joana, em São Paulo, que no primeiro trimestre de 2009 apresentou taxa de 93,18% cesarianas, segundo o  Sistema de Informações de Nascidos Vivos (SINASC). Questionada a respeito, a ANS declarou por meio de assessoria de imprensa que “vem trabalhando, desde 2005, para a diminuição do número de partos cesáreos, mas o problema é bastante complexo e multifatorial, envolvendo a organização do trabalho do médico, dos hospitais e a própria cultura e informação da população brasileira”. Disse ainda que “não existe limite para a realização de partos cesáreos” e que isso depende da indicação médica.
No filme “O Renascimento do Parto”, ainda sem data de estreia no Brasil, mas que já possui uma versão resumida no Youtube, o pediatra Ricardo Chaves questiona: “Eu quero saber o seguinte: nós combinamos com o bebê que ele vai nascer sexta-feira, quatro da tarde? Ele respondeu que tem condição de nascer?”
NOS CONSULTÓRIOS, A PRÁTICA É ASSUSTAR A MULHER
Os profissionais têm opiniões diferentes a respeito do grande volume de cesarianas. Para a médica obstetra representante do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) Silvana Morandini, “a medicina defensiva está indicando mais a cesárea. Se o bebê tem circular de cordão no pescoço, se é um feto muito grande, se tem placenta marginal, qualquer diagnóstico que possa dar problema, aumenta a prescrição”. Ela chama isso de “conduta defensiva”, por “medo de dar errado”. Silvana também acredita que “o grande número de cesáreas é cultural. A mulher brasileira tem a ideia de que com o parto vaginal vai ficar com o períneo mais flácido”.
Já o obstetra especialista em parto humanizado Jorge Kuhn acredita que “a grande culpada pelo boom de cesarianas foi a mudança do modelo obstétrico. Antigamente o modelo era centrado na obstetriz. O médico era chamado nos casos de complicação. A transformação do parto domiciliar em hospitalar, na década de 1970, aumentou a incidência de cesarianas. É lógico que esse índice também cresceu por outras razões, como gravidez múltipla, idade avançada e riscos reais ”. Ele explica que outro fator importante foi a entrada dos convênios médicos nos planos de parto. “Eles perceberam que para vender planos de saúde, um bom argumento era o de que a mulher faria o pré-natal com o mesmo médico que faria o parto e isso é a maior cilada. Porque o médico prefere ficar no consultório a sair para ganhar tão pouco. Dizem que a mulher escolhe a cesariana, mas o parto normal é desconstruído no consultório consulta a consulta. Frases como ‘nossa, mas esse bebê está crescendo muito’ dão a conotação subliminar de que a mulher não poderá ter parto normal. Circular de cordão, bacia estreita, feto grande, feto pequeno, pouco líquido, muito líquido, pressão arterial alta, diabetes, nada disso é indicação de cesariana. Foi se criando o conceito de que o corpo da mulher é defeituoso e requer assistência. Que ela precisa ser cortada em cima ou embaixo para poder parir”.
Um médico obstetra com 15 anos de formação, que atende a convênios e preferiu ter sua identidade preservada, confirma a fala de Jorge Kuhn.
Ele explica que com o valor irrisório pago pelos convênios (cerca de 300 reais por parto normal ou cesárea) não compensa para o profissional largar o consultório cheio ou sair de casa de madrugada para passar 10, 12 horas acompanhando um parto normal. “Eu digo para as minhas pacientes logo nas primeiras consultas que se elas optarem por marcar uma cesariana eu farei, mas se optarem por um parto normal vão ter com plantonista”. Para ele, apesar das pesquisas e das indicações internacionais como a da OMS, a cesariana é a melhor opção para a mãe e o bebê. “No hospital particular eu acho que acontece o real parto humanizado. Porque tem uma assistência muito maior. Com 5 para 6 cm de dilatação a gente instala a anestesia, aí a paciente já não sente dor, faz a tricotomia (raspagem dos pêlos) porque é mais higiênico, rompe a bolsa, acelera o trabalho de parto. Minha filha nasceu por cesárea, minhas sobrinhas também. Se eu achasse tão bom o parto normal teria feito. Claro que se o médico marcar a cirurgia para muito antes, o bebê pode nascer prematuro, com problemas respiratórios, pode complicar sua saúde a longo prazo. Mas no parto normal existe mais risco de asfixia e paralisia cerebral. Se você for perguntar, 90% dos filhos de médicos nascem por cesárea”.
Jorge Kuhn, que foi recentemente denunciado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro e responde a processo no CREMESP por ter declarado em um programa de televisão ser favorável ao parto domiciliar para gestantes de baixo risco, lembra que para o hospital também é muito mais lucrativo e conveniente que se façam cesarianas. “Eles sabem quais são os recursos humanos e materiais que têm em vésperas de feriados, principalmente os mais prolongados, e têm os agendamentos da sala certinhos. Fazer uma cesariana em trabalho de parto resulta em maior custo para o hospital. Quando a mulher ficou tantas horas em trabalho de parto e passa para uma cesárea, isso é um problema. Uma vez eu perguntei para um gestor quanto eu custava, fazendo mais partos normais. Ele disse que o problema é quando meus partos normais viravam cesáreas, porque já tinha gasto tempo e material naquele parto e gastava com a cirurgia. Mas tanto faz em termos de custo. O agendamento que facilita. Nenhum hospital no Brasil tem condições de atender partos normais como a OMS aceita, com no máximo 15% de cesarianas. Não têm estrutura física para isso, é uma fórmula difícil de fechar. Mas basicamente é uma tríade: comodidade dos médicos e hospitais, indiferença das mulheres e mercado. Sempre é uma questão de dinheiro”.
Ana Cristina acrescenta que quanto mais complicado for o parto, mais lucro o hospital terá. “Anestesia, cirurgia, drogas, antibióticos, compressas, equipamento, equipe de enfermagem. Se rolar uma UTI neonatal por dois dias, já vai mais uma boa grana, quase a de um parto. E esses equipamentos todos da UTI estão pagos, precisam ser usados para gerar lucro. A UTI custa muito caro. Então qual é o problema? É que nós estamos colocando bebês para nascer em uma estrutura muito cara, que precisa se pagar”.
Para incrementar, alguns hospitais particulares oferecem alguns “extras” a seus pacientes, conta Simone Diniz. “Existe uma coisa chamada ‘janela de plasma’, que fica no centro cirúrgico e dá para um pequeno auditório anexo. É uma janela opaca que fica transparente quando o bebê nasce e o médico pode apresentá-lo à plateia. Algumas famílias fazem festas, com serviço de catering etc. Isso não pode acontecer em um parto normal, certo? Precisa ser agendado com antecedência. Aí você vê como hoje o parto fisiológico é subversivo, porque subverte toda essa lógica hospitalocêntrica”.
ALTERNATIVA SUBVERSIVA
O modelo alternativo, hoje conhecido como parto humanizado, se baseia em exemplos usados há muitos anos em países como Holanda e Alemanha, e é centrado na autonomia da mulher, pensando o parto como algo fisiológico, natural, com pouca ou nenhuma intervenção médica. O direito da mulher sobre o seu próprio parto também é uma das principais bandeiras de um movimento feminino que cresce a cada dia no Brasil, principalmente através de blogs e articulações por redes sociais.
No filme inglês Freedom For Birth, que conta a história da parteira húngara Ágnes Geréb, processada criminalmente e condenada a dois anos de prisão porque, até 2011, não havia regulamentação para os profissionais que assistiam partos domiciliares, a antropóloga americana Robbie Davis-Floyd critica o modelo atual, em que o corpo da mulher é tratado como uma máquina, e o parto como um processo mecânico disfuncional, que precisa das intervenções médicas para trazer o bebê ao mundo porque não confia na fisiologia natural do parto. Em seu estudo “Birth as an American rite of passage (1984)” ela lembra que o parto, até pouco tempo, era vivido como algo exclusivamente feminino e privado, com as mulheres dando a luz em suas casas amparadas por outras mulheres: parteiras, mães, amigas mais experientes. A ideia de “mulher empoderada”, que escolhe onde, como e com quem quer parir, ou no mínimo opina a quais procedimentos quer ou não se submeter é o centro deste pensamento.
O parto humanizado pode acontecer em casas de parto, em casa (somente para gestantes de baixo risco, que são a maioria) e até em salas especiais que muitos hospitais estão criando com esta finalidade. A equipe geralmente é reduzida, com uma enfermeira obstetra (ou médico que siga esta filosofia), um neonatologista e uma doula – profissional treinada a dar suporte físico e emocional à mulher desde o pré-natal. Na hora do parto, a doula orienta sobre exercícios e posições, respiração e fornece um arsenal de recursos não farmacológicos para alívio da dor, como massagens, bolas, óleos, exercícios e banhos. A mulher pode comer, tomar água, andar e ficar na posição que se sentir mais a vontade para parir. Cada vez mais mulheres têm optado por este modelo, mas nem todas têm acesso. Um parto domiciliar custa de 5 a 10 mil reais (somando os honorários de todos os profissionais). No hospital, além da equipe, é preciso pagar a internação em pacotes de parto, que podem custar em média mais 8 mil reais.
Apesar de em 2011 o governo federal ter lançado a Rede Cegonha, que tem como objetivo humanizar o parto e criar casas de parto normal integradas ao SUS, ainda há poucas opções e somente em grandes centros urbanos – até 2014, segundo o Ministério da Saúde, serão 200 em todo o país. Com pouca ou nenhuma divulgação, sobram leitos em muitas delas. A Casa de Parto de Sapopemba em São Paulo, por exemplo, referência no atendimento a gestantes de baixo risco, não só não é divulgada, como não se consegue entrevistar os profissionais que atendem na Casa. Alertada por colegas jornalistas, eu tentei entrar em contato através da assessoria de imprensa da prefeitura mas não obtive resposta, apesar da insistência. Durante a reportagem, conheci uma enfermeira obstétrica que foi demitida por ter concedido entrevista a um jornal sem autorização. Uma reserva que faz lembrar o que acontece com os programas de redução de danos – cala-se a respeito para evitar polêmica, ou a adesão excessiva em relação às dimensões previstas por essas políticas públicas.
Simone Diniz conta que a própria mulher que resolve esperar o trabalho de parto é hostilizada. “As pesquisas indicam que entrar em trabalho de parto aumenta muito o risco de você sofrer violência. É muito interessante o grau de hostilização da mulher em trabalho de parto. No setor privado, acham o fim da picada que aquela mulher queira dar trabalho para eles. Uma mulher contou que como insistiu muito com o médico que queria parto normal, ele indicou um psicólogo dizendo que ela tinha traços masoquistas!” O Conselho Federal de Medicina é totalmente contra o parto domiciliar. Assim como os conselhos regionais que quiseram caçar o registro de Jorge Kuhn. O Conselho de Enfermagem (COFEN) também tentou por muito tempo fechar o novo curso de obstetrícia da USP Leste, mas desde dezembro de 2012, o curso ganhou, através de liminar do Ministério Público, não só o direito ao funcionamento como ao registro específico no COFEN.
POR MIM VOCÊ PODE CORTAR A MULHER EM QUATRO…
Essa “caça às bruxas do parto humanizado” não é exclusividade brasileira – vide Àgner Gereb. Jorge Kuhn conta que quando chegou ao Brasil após uma temporada aprendendo sobre parto humanizado na Alemanha, foi procurar os gestores de grandes hospitais para implantar essas técnicas de redução de cesarianas, mas que foi recebido com declarações como “por mim você pode cortar a mulher em quatro desde que me entregue um bebê bom”. Ainda assim, o obstetra é otimista: “O filósofo Schopenhauer dizia que toda verdade passa por três estágios: No primeiro, ela é ridicularizada. No segundo, é rejeitada com violência. No terceiro, é aceita como evidente por si própria. Estamos no segundo estágio”.
Outra alternativa bonita para quem procura por um parto “empoderado” (no sentido de dar poder à mulher sobre o parto) é a Casa Ângela, em São Paulo. Criada pela Associação Comunitária Monte Azul, a Casa de Parto, instalada na periferia da zona sul da cidade, se mantém com financiamentos de parceiros nacionais e internacionais e, desde o começo de 2012, faz uma média de 10 partos por mês, e acompanha mais de 250 mães e bebês. O nome homenageia a parteira alemã Ângela Gehrke, que nas décadas de 1980 e 1990, atendeu a mais de 1500 mulheres da favela Monte Azul e foi referência de parto humanizado no Brasil. Ângela morreu de um câncer em 2001 mas o trabalho com a comunidade foi retomado alguns anos depois.
A casa é linda, iluminada, arejada e no dia que visitei, um cheiro de bolo assando perfumava o ambiente. Nada ali lembrava o ambiente hospitalar. Anke Riedel, obstetra coordenadora do projeto, me conta que por causa da grande procura de mulheres de outras regiões e até outras cidades, a casa criou um plano de sobrevivência, no qual cobra um pequeno valor para quem não é da comunidade. O pacote padrão, que inclui o pré-natal, a triagem para fatores de risco no parto (as regras são rígidas e somente as gestantes que não apresentam riscos podem ser atendidas na casa), o parto e o acompanhamento do puerpério e do bebê por um pediatra, custa 3.500 reais, que pode ser negociado conforme as condições financeiras do casal. “Como não recebemos qualquer ajuda do governo, essa foi a forma que encontramos de manter a casa e poder atender às gestantes, além do apoio dos parceiros”. Na equipe, obstetrizes atendem às gestantes e, em casos de urgência, a casa possui equipamento e ambulância próprios para remoções para hospitais próximos. Segundo Anke, algumas vezes estas remoções acontecem, mas nunca houve uma de urgência.
EM VEZ DE MACA E SORO, UMA LEOA COM O BEBÊ NOS BRAÇOS
Fui convidada a conhecer Aline, de 26 anos e seu marido Marcos, da mesma idade, moradores da comunidade que tiveram seu bebê na casa na noite anterior. Quando entrei no quarto, a primeira surpresa. Nada de maca ou soro. Apenas um casal deitado em uma cama com o bebê nos braços, com luz baixa e largos sorrisos no rosto. Aline me mostrou a pequena Sofia, que veio ao mundo sem qualquer intervenção médica ou farmacológica. Ela conta que o bebê nasceu na banheira, à luz de velas e música ambiente, com o marido fazendo massagem e ajudando nas posições. Que se apaixonou pela Casa assim que conheceu a proposta e que durante o pré-natal, ela foi bem orientada e tratada pelo nome, ao contrário do atendimento no posto de saúde em que era uma “mãezinha”.
Um nó aperta minha garganta, é impossível não fazer comparações. Marcos diz que estava orgulhoso da mulher, que mais parecia uma leoa poderosa no parto. Compara ao que já tinha visto na televisão ou nas novelas: “Aquelas mulheres gritando, deitadas, aquele desespero. Nada disso aconteceu. Teve hora que a enfermeira abraçava, dava beijo na testa dela, esse afeto fez diferença. No hospital você fica vendo seu parto acontecer.” Flashes do meu parto não param de vir à mente. Sou feliz por Aline e Marcos. E muito revoltada por mim mesma. Vendo e ouvindo essas histórias de amor, assistindo a vídeos de partos humanizados, dignos, nos quais as mulheres foram protagonistas do nascimento dos seus filhos, só posso chegar a uma conclusão: violaram meu momento. Roubaram meu parto de mim.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Cresce o número de mulheres diretoras na área de finanças


(Valor econômico)O número de mulheres no cargo de CFO aumentou 35% nas grandes empresas americanas no ano passado, o que coloca finalmente mais executivas mulheres no topo da hierarquia das companhias do país após décadas de crescimento lento.
Havia 54 mulheres atuando como diretoras da área de finanças nas 500 companhias do índice da Standard & Poor no mês passado, e apenas 40 um ano antes, de acordo com dados compilados pelo "Bloomberg Rankings". Apesar de homens ainda serem 90% dos CFOs desse grupo de empresas, o crescimento mostra progresso para gestoras mulheres em uma época de poucas mudanças quando o assunto é a participação feminina no nível executivo.
Mulheres são agora responsáveis pelas finanças em empresas renomadas como o banco J.P. Morgan Chase, a rede de jornais Gannett e a Time Warner Cable. A tendência aparece em um momento em que o trabalho do CFO em si está se tornando mais crítico. Desde a Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, as empresas precisaram ser mais transparentes em relação às suas finanças, colocando assim os CFOs em destaque e mais próximos dos executivos-chefes.
"Não se trata mais de um antiquado trabalho de contabilidade", diz Matt McGreal, responsável pelas práticas de governança corporativa na empresa de recrutamento executivo Crist/Kolder Associates. "O CFO hoje é um dos poucos diretores que precisam ter uma visão geral da organização inteira", afirma.
CFOs tipicamente têm experiência nas áreas de contabilidade, gestão de risco e tesouraria - papéis onde o desempenho pode ser medido em números, diz Ann Marie Petach, diretora financeira na gestora BlackRock. Isso foi favorável às mulheres, ajudando-as a ganhar promoções quando mostram competência, diz. "Acredito que mulheres se saem melhor em meritocracias verdadeiras."
Ainda assim, chegar à presidência das empresas continua difícil. Apenas 21 dos CEOs nas 500 empresas da lista da S&P são mulheres - um número que pouco mudou nos últimos cinco anos. Chegar ao topo da empresa geralmente exige experiência no comando de outro negócio ou, pelo menos, de uma grande divisão. Isso é uma barreira para as mulheres, embora algumas CFOs estejam chegando à posição com mais experiência. A CFO da Chevron, Patricia Yarrington, anteriormente foi presidente da Chevron no Canadá. Ela também serviu como tesoureira e vice-presidente de políticas governamentais para a empresa de energia, a segunda maior do setor nos EUA.
Atualmente, cerca de 15% dos CEOs das empresas na lista foram CFOs em algum momento da carreira, diz Joshua Wimberley, que lidera a unidade da Korn/Ferry International voltada para recrutamento de executivos de finanças. A CEO da Pepsico, Indra Nooyi, uma das líderes mulheres mais conhecidas, assumiu o cargo após mais de seis anos como diretora financeira. Antes, ela ocupou cargos estratégicos na ASEA Brown Boveri e na Motorola.
A CEO da Gannett, Gracia Martore, também subiu ao comando da empresa pela diretoria financeira. A CFO atual é outra mulher, Victoria Harker. "Atualmente, não é raro ver CFOs que tiveram experiência no comando de um negócio ou que adquiriram essa experiência depois de passar pela diretoria financeira", diz Wimberley.
Ao assumir mais posições de CFO, as mulheres estão avançando além das áreas onde geralmente têm sucesso, como campos menos analíticos - um movimento que é um bom sinal para chegar ao cargo de CEO, diz Ilene Lang, presidente da organização sem fins lucrativos Catalyst. "Não são papéis tradicionais como recursos humanos ou comunicação", diz Ilene. "Na última década, a posição de CFO se tornou um degrau para o escritório do CEO."
Ainda assim, o ritmo lento de avanço frustra algumas CFOs. Irene Esteves, diretora financeira da Time Warner Cable, diz que ela está desapontada por ainda não existirem muito mais mulheres com o mesmo título que ela. Quando se formou na faculdade em 1981, o movimento pelos direitos femininos já existia há bastante tempo. "Achei que quando eu me tornasse CFO de uma grande empresa, as mulheres formariam bem mais do que 10% desses cargos."
No geral, elas ocupavam 14% de todos os cargos executivos seniores no ano passado, de acordo com a Catalyst. A organização descobriu que 28% das empresas da Fortune 500 em 2013 não tinham nenhuma mulher em diretorias - um grupo que inclui a Apple, a Exxon Mobil e a Berkshire Hathaway. Karen McLoughlin, CFO da Cognizant Technology Solutions, atua como mentora para funcionárias por meio do programa Mulheres no Poder da empresa. "A questão para mim é: por que demora tanto? Há algo na organização que fica no caminho delas?".
Irene, da Time Warner Cable, trabalhou como CFO em muitas outras empresas menores antes de assumir a posição atual em 2011. Em um emprego anterior, ela teve que superar a relutância do chefe em mandá-la para o exterior, onde trabalharia com empresas que não estão acostumadas com executivas mulheres. Ela argumentou que uma mulher poderia tirar vantagem disso e foi bem-sucedida. "Disse que 'se eu vou ter que negociar em nome da empresa, não seria ótimo se a pessoa do outro lado não souber como lidar comigo?' Eles concordaram", conta.
Na Time Warner Cable, o CEO e COO passaram pelo cargo de CFO, o que mostra que há um caminho para avançar. O time de executivos de Irene também tem várias mulheres. "Foi bom chegar em uma organização onde já há mulheres na liderança sênior. Há uma boa diversidade aqui, que tende a aumentar", afirma.
Ela atribui uma parte do seu sucesso ao filho, que agora tem mais de 30 anos. Quando ainda era criança, ela já trabalhava longas horas e viajava ao redor do mundo. Em uma noite, quando voltou para casa, ouviu uma conversa que ele estava tendo com um amigo. "O colega disse 'você não acha que é horrível que sua mãe fica longe o tempo todo?' Ele ficou quieto e pensativo, e disse 'bem, eu não quero ser pobre'. É o jeito que ele teria respondido se a pergunta fosse sobre o pai dele", lembra.

27/03/2013 - Vanessa Grazziotin assume Procuradoria da Mulher


- Vanessa  assume Procuradoria da Mulher
Tomau posse ontem como procuradora especial da Mulher do Senado, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse que o órgão é um importante instrumento na luta pela emancipação feminina. A solenidade foi realizada na Presidência da Casa.Vanessa é a primeira a assumir a Procuradoria da Mulher, que foi criada no último dia 20, atendendo a um pedido da própria senadora.

No cargo até 2015, ela terá, entre outras atribuições, de zelar pelas políticas de gênero em discussão no Poder Legislativo e pela aplicação dessas políticas no Senado.
Na opinião da senadora, o debate sobre os direitos das mulheres é prejudicado pela representação política desigual no Parlamento. Apenas 10% das cadeiras do Senado são ocupadas por senadoras.
— A democracia também se mede pela participação da mulher. Não vamos debater entre nós mulheres, mas entre homens e mulheres porque juntos é que vamos superar os problemas — disse ela, ­assinalando que a Procuradoria acompanhará programas governamentais para promoção de igualdade de gêneros e realizará campanhas educativas e antidiscriminatórias
O presidente do Senado, Renan Calheiros, lembrou que a criação da Procuradoria da Mulher é um de seus compromissos da campanha à Presidência do Senado.
— É um reconhecimento de que, sem a efetiva participação feminina, não chegaremos a lugar nenhum. Quanto mais as mulheres tiverem seus direitos garantidos, melhor será para todos — disse.
Na cerimônia, foram entregues a representantes da ONU Mulheres as mensagens afixadas no painel exposto no Senado em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
No local, o público feminino que circulou pela Casa deixou bilhetes com as expectativas e anseios — como a redução da violência doméstica.
Participaram do evento as ministras Eleonora Menicucci (Políticas para as Mulheres) e Miriam Belchior (Planejamento) e os senadores Ana Amélia (PP-RS), Lúcia Vânia (PSDB-GO), Ana Rita (PT-ES), Lídice da Mata (PSB-BA), Humberto Costa (PT-PE), Sérgio Souza (PMDB-PR), Ruben Figueiró (PSDB-MS), Wellington Dias (PT-PI), Romero Jucá (PMDB-RR) e Paulo Paim (PT-RS).

- 'O crime contra a mulher está mais cruel', diz Eleonora Menicucci



(O Estado de S. Paulo) As convicções de Eleonora Menicucci são conhecidas. Mas, desde que assumiu a Secretaria de Políticas para as Mulheres, em fevereiro de 2012, passou a evitar temas polêmicos e a afirmar que sua opinião pessoal não importa. Principalmente quando o assunto é aborto: "Sigo as diretrizes do governo".
A ministra, que é amiga da presidente Dilma Rousseff desde a década de 1960, recebeu a coluna em seu apartamento em São Paulo, na véspera de o Conselho Federal de Medicina colocar o tema novamente em pauta, ao defender o direito de a mulher abortar até a 12ª semana de gravidez. Questionada sobre se o Brasil está preparado para o debate, preferiu uma saída política.
A questão do aborto marcou a disputa entre Dilma e o ex-governador José Serra na eleição presidencial de 2010. À época, a então candidata petista se comprometeu a não adotar nenhuma medida, durante seu governo, para mudar a legislação atual, que só permite a interrupção da gestação quando a vida da mulher está em risco ou quando a gravidez é resultante de estupro.
Torturada durante a ditadura militar e companheira de prisão da presidente na Torre das Donzelas, a ala feminina do presídio Tiradentes, em São Paulo, Eleonora diz que é preciso dar "tempo" à Comissão da Verdade. "Resolver em dois anos problemas de 40 anos atrás é muito difícil."
Com o orçamento de R$ 188 milhões - mais que o dobro de quando assumiu a pasta -, a ministra diz estar empenhada em combater a violência contra a mulher. "Nosso objetivo é acabar com o tráfico de pessoas - principalmente porque mais de 47% das pessoas traficadas são mulheres para exploração sexual - e implementar a Lei Maria da Penha em todo o País."
Embora a meta pareça ousada, a ministra diz que as condenações do ex-goleiro Bruno (pela morte de Eliza Samudio) e do ex-policial militar Mizael Bispo (pelo assassinato de Mércia Nakashima) foram "excepcionais" para "fazer com que as mulheres mudem de atitude e denunciem seus agressores". "Apesar de, na minha concepção, as condenações terem sido baixas, elas foram muito simbólicas."
Confira, a seguir, os principais trechos da conversa.
A senhora acredita que o Brasil já está preparado para a discussão sobre o aborto?
Eleonora Menicucci - Temos um histórico de discussão sobre isso no âmbito da sociedade civil, sem dúvida nenhuma.
E no âmbito do governo?
Eleonora Menicucci - Como cidadã, tenho minhas convicções. Agora, desde que entrei no governo, sigo as diretrizes do governo.
O combate à violência contra as mulheres é prioridade do governo Dilma?
Eleonora Menicucci - Temos dois grandes programas na área da violência. Um deles, em parceria com o Ministério da Justiça, é o de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Mais de 47% das pessoas traficadas são mulheres - e para exploração sexual. Estamos determinados a acabar com isso até o fim do governo Dilma. Para isso, fortalecemos a campanha de denúncias. Já temos o Ligue 180 e agora estamos investindo nos núcleos especializados nas fronteiras. Queremos ampliar e qualificar esses espaços para amparar as mulheres e identificar agressores e traficantes.
O problema ganhou visibilidade com a novela Salve Jorge?
Eleonora Menicucci - Claro que ela incentiva, sim. Uma das últimas denúncias - que acabou com a quadrilha desbaratada pela Polícia Federal em Salamanca - foi feita por uma mãe depois de ver a novela. Ela acreditou que sua filha vivia situação semelhante à das personagens. Mas não é só isso. De janeiro a dezembro de 2012, tivemos 80 ligações para o Ligue 180 - a maior parte de Espanha, Portugal e Itália. A partir do momento em que fomos para a televisão falar sobre a importância da denúncia, o número de ligações subiu absurdamente. Foram 72 em três dias.
A denúncia é fundamental?
Eleonora Menicucci - Sim, porque só a partir dela pode existir um processo e um desbaratamento. Do contrário, não podemos fazer absolutamente nada. O tráfico é um crime silencioso e muito covarde. As mulheres são aliciadas, com promessas de empregos, de vida melhor. Mas chegam a seus locais de destino sem documentos, ficam confinadas e muito ameaçadas. E é importante lembrar que existe a denúncia anônima. É constitucional, está na Lei Maria da Penha.
A Lei Maria da Penha é eficaz em todo o País?
Eleonora Menicucci - Uma das nossas mais importantes preocupações é a consolidação e a implementação da Lei Maria da Penha em todo o Brasil. Para lançar o programa Mulher, Viver Sem Violência, fizemos parcerias com o sistema judiciário. Fomos eu e o ministro José Eduardo Cardozo negociar com o ministro Joaquim Barbosa e com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Tivemos adesão imediata.
Como se dará essa parceria?
Eleonora Menicucci - O plano prevê investimento de R$ 265 milhões em dois anos. Parte desses recursos será para a construção da Casa da Mulher Brasileira nas 26 capitais e no Distrito Federal, onde concentraremos todos os serviços para amparar as mulheres vítimas de violência: delegacias especializadas, juizados, defensorias, promotorias e atendimento psicossocial. Mas, com algumas novidades: incluímos a central de transportes - que leva e busca a mulher em casa, nos hospitais ou nas delegacias onde deram entrada -, os serviços de orientação para emprego e espaços para recreação das crianças dessas mulheres.
O que mudará?
Eleonora Menicucci - Sei bem como funciona a ponta do problema, porque, durante anos, coordenei, em São Paulo, um serviço de atendimento às mulheres vítimas de violência sexual. A mulher estuprada precisa de atendimento respeitoso, digno, de alguém que acredite na palavra dela. Além disso, há um elemento essencial: a coleta da prova do estupro. Ela tem de ser coletada por um especialista, e essa prova precisa ser guardada em lugar adequado e seguro.
É uma meta possível?
Eleonora Menicucci - Tenho absoluta convicção de que, com essa parceria, conseguiremos capilarizar o combate à violência contra as mulheres para os municípios pequenos. A violência não acontece só nas capitais. Criar as varas especializadas em municípios pobres é fundamental. É o que salva as mulheres. Essas mulheres só são salvas quando vão às delegacias, às varas, e encontram uma estrutura preparada para recebê-las e auxiliá-las. É aí que está o desafio, o gargalo. A delegacia tem de estar preparada para pedir a medida protetiva ao juiz. E o juiz precisa expedir essa medida o mais rápido possível. Porque, quando a mulher toma a iniciativa de procurar ajuda, quer dizer que ela pode ser morta a qualquer momento.
Porque muitas mulheres sofrem caladas durante anos.
Eleonora Menicucci - Mais grave do que sofrer calada é ir à delegacia e ouvir do delegado: "Vou pedir a medida protetiva. Pode voltar para casa". Ela volta para casa e a medida nunca é expedida. É esse processo que queremos mudar. Trabalhamos em parceria com o Conselho Nacional de Justiça na capacitação de juízes para desempenhar essa função.
Muitas mulheres têm medo de denunciar seus agressores?
Eleonora Menicucci - Mais do que medo, têm vergonha. Vergonha de assumir que estão sendo violentadas. Seja violência doméstica ou estupro. E sabe qual a maior vergonha? Denunciar o homem que ela escolheu para ser pai de seus filhos. É quando ela expõe a privacidade em seu nível mais alto. E isso eu falo de cátedra.
É difícil assumir um erro...
Eleonora Menicucci - Exato. E assumir na lata: "Eu errei. Ele me bate, meus filhos veem". Essa mulher pode não ter nenhum hematoma, mas está com corpo e alma inteiramente roxos. Tenho sentido que as mulheres estão acreditando mais nas políticas públicas. As condenações do ex-goleiro Bruno e do Mizael Bispo são excepcionais para fazer com que as mulheres mudem de atitude e denunciem seus agressores.
A senhora acha que as penas (22 anos para o Bruno e 20 para o Mizael) foram baixas?
Eleonora Menicucci - Na minha concepção, as penas foram baixas. Por outro lado, também foram muito simbólicas. Só o fato de eles terem sido condenados e expostos publicamente já é uma vitória. Porque os crimes contra as mulheres têm se tornado cada vez mais cruéis. Matar já é cruel, mas afogar, decepar, dar para o cachorro, não achar o corpo. Isso é de uma crueldade incrível.
Crê que o fato de o Brasil ter uma presidente mulher mudou a visão da sociedade?
Eleonora Menicucci - Sempre digo que o século XXI é o século das mulheres. As mulheres podem e sabem fazer. Até as crianças estão vendo isso. Ter uma presidente mulher tem um impacto muito grande. E nós, na secretaria, temos um papel importantíssimo. Estamos trabalhando para incentivar as mulheres a entrarem na política. Hoje, no Congresso Nacional, apenas 8% são mulheres - entre senadoras e deputadas. É muito pouco. Dos 5.570 municípios, apenas 657 são comandados por prefeitas. E elas estão, em grande parte, nas cidades pequenas. Temos uma única prefeita de capital: a Teresa Surita, em Boa Vista. E duas governadoras, a Rosalba Ciarlini (Rio Grande do Norte) e a Roseana Sarney (Maranhão).
Existem políticas para as mulheres homossexuais?
Eleonora Menicucci - Temos uma coordenadoria da diversidade. Sou defensora dos direitos GLBT. São pessoas, seres humanos iguais a todos. Não há diferença nenhuma. A homofobia é um preconceito, uma violência.
Como a senhora viu a nomeação do pastor Marco Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara?
Eleonora Menicucci - É uma questão do Congresso Nacional. Como ministra de Estado, não posso, não quero e não vou me meter nisso. Acho que a sociedade tem de se mobilizar para dar a resposta necessária à questão. Não se pode simplesmente acabar com a Comissão de Direitos Humanos. Tenho real esperança de que o Congresso vai resolver isso.
O que acha da atuação da Comissão da Verdade?
Eleonora Menicucci - Historicamente, foi fundamental a criação da Comissão da Verdade. E nós, do Executivo, não nos intrometemos em seu funcionamento. Ela é autônoma. Para mim, como ex-presa política, a instalação da comissão foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida.
Há críticas em relação ao trabalho da comissão.
Eleonora Menicucci - A comissão tem de ter seu tempo para trabalhar. Precisa de tempo. Resolver em dois anos problemas de 40 anos atrás é muito difícil. A comissão tem dado resultados muito bons. Vimos a entrega do novo atestado de óbito de Vladimir Herzog à família do jornalista, assassinado em 1975; a descoberta dos documentos que mostram que Rubens Paiva foi morto sob tortura. E tantos outros virão à tona. Tenho certeza de que a comissão entregará um relatório exitoso.

Lei Maria da Penha é conhecida por 99% das mulheres, revela pesquisa DataSenado


Segundo pesquisa do DataSenado divulgada em 26/03, 66% das entrevistadas consideram que a proteção da mulher melhorou depois da Lei Maria da Penha, 28% acreditam que está igual; e 5%, que está pior. A Lei Maria da Penha é conhecida, ao menos de ouvir falar, por 99% das mulheres entrevistadas.
A pesquisa DataSenado também revela que a maioria das mulheres (80%) têm a percepção de que as leis por si só não dão conta de resolver a problemática da violência doméstica. Do total de 1.248 entrevistadas, 74% apontam o medo do agressor como principal empecilho para a mulher não denunciar a agressão, seguida de 34% que destacam a dependência financeira e outros 34% que apontam a preocupação com a criação dos filhos.
Em relação aos serviços de atenção às mulheres vítimas de violência doméstica, o atendimento do Ligue 180 tem avaliação ótima para 50%; o atendimento recebido nas delegacias é apontado por 21,5% como ótimo, 29,1% como bom, e 21,5% como péssimo.
A pesquisa DataSenado é realizada a cada dois anos, por meio de entrevistas telefônicas com mulheres de 16 anos ou mais, residentes no país e com acesso a telefone fixo.
Acesse a pesquisa na íntegra em pdf (884 KB): Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher (DataSenado, 2013)
Por Marisa Sanematsu
Portal Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha