terça-feira, 8 de outubro de 2013

As Mulheres na Construção Civil

08/10/2013

Com perfil detalhista e cauteloso, trabalhadoras do setor transmitem confiança e desenvolvem atividades difíceis, sempre com um toque feminino



Não é de hoje que as mulheres estão ganhando mais espaço em todos os segmentos da sociedade. A presença feminina na construção civil, por exemplo, aumentou 65% na última década. Segundo a Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (Rais/MTE), no ano 2000 elas eram pouco mais de 83 mil em um universo de um milhão de trabalhadores do setor. Em 2008, elas ocupavam 137.969 mil vagas do total de quase 2 milhões. Já em 2011, chegaram a 221 mil trabalhadoras. Dados mais recentes mostram que, até julho de 2012, a fatia pulou para 239 mil mulheres.
 
Estudos comprovam que o perfil feminino, sempre mais cauteloso e detalhista, contribui para a edificação de construções mais confiáveis. E quem contratou garante: elas são mesmo muito mais caprichosas. Gabriela Baena, arquiteta, trabalha diariamente em Brasília como supervisora de qualidade em construções de médio a grande porte. De acordo com ela, geralmente, os trabalhos delegados às mulheres nos canteiros de obra são aqueles não muito pesados. No entanto, pondera: eles são os mais difíceis.
 
É comum que o time feminino fique responsável mais pelos serviços de acabamento, como rejunte, assentamento de cerâmica e pintura, que exigem mais atenção e esmero. “Elas trabalham direitinho. O serviço tem qualidade muito superior ao realizado pelos homens, é mais caprichoso, feito com cuidado”, avalia a arquiteta. E, ao menos no ambiente de trabalho, não há preconceito. “Temos cerca de trinta funcionárias atuando em uma obra com um total de cem trabalhadores. E todos se dão superbem, sem preconceitos”, conta Gabriela.
 
| Incentivos
 
Mas mesmo provando sua capacidade, as mulheres ainda são minoria nesse meio e enfrentam certa relutância por parte dos contratantes. Para tentar reverter essa situação, tramita na Câmara um projeto de lei. De autoria do deputado Jânio Natal (PRB-PA), o PL 2856/11 obriga a construção civil a contratar pelo menos 10% de mão de obra feminina. O parlamentar acredita que, uma vez obrigadas a contar com mulheres na equipe, as empresas da área perceberão as vantagens e, por visarem a lucros, passarão a admitir ainda mais trabalhadoras.
 
Além disso, para ajudar mulheres que precisam se colocar no mercado de trabalho, mas não têm qualificação, existem programas do governo como o Mulheres Construindo Autonomia na Construção Civil, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM). 
 
O projeto atua diretamente na qualificação e na formação de mulheres para sua inserção no mercado da construção civil. Conta com ação conjunta entre a Secretaria e governos de estados e municípios, por meio das secretarias/coordenadorias da Mulher, secretarias do Trabalho ou correlatas, além de entidades da sociedade civil.
 
Outro exemplo de sucesso é o Mulheres na Construção, projeto desenvolvido no Distrito Federal pela Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), órgão vinculado ao Ministério da Integração Nacional (MI), com apoio da Secretaria de Estado da Mulher do Distrito Federal (SEM-DF). Os cursos oferecidos são de pintora e azulejista, ministrados pelo Instituto Federal de Brasília (IFB). 
 
A primeira etapa formou 172 pessoas em setembro de 2012. Para a segunda etapa, estarão disponíveis mais 240 vagas. As mulheres atendidas recebem, além do curso, materiais, uniforme, vale-transporte e uma bolsa em dinheiro para despesas gerais.
 
| Mulheres que Inovam
 
Eleonora Menicucci, ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM), lançou em novembro a campanha Mulheres Que Inovam. O objetivo é chamar a atenção das brasileiras para os cursos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) do Brasil Sem Miséria. “Queremos promover a autonomia econômica das mulheres, incentivando-as a se qualificar em cursos gratuitos, voltados para os setores que estão em expansão, em profissões tradicionalmente masculinas”, destaca a ministra.
 
Embora a presença de mulheres em setores predominantemente masculinos já seja realidade, a meta é ampliar a participação feminina. Uma campanha televisiva será exibida para incentivá-las a procurar os cursos do Pronatec em profissões como eletricista, torneiro mecânico, pedreiro e instalador predial. Para a ministra, políticas como essas contribuem para a permanência das mulheres no mercado de trabalho e são cruciais para a independência feminina, o desenvolvimento da sociedade e até a sobrevivência do sistema de proteção social.
 
Segundo Eleonora Menicucci, apenas as atividades do setor de serviços são majoritariamente realizadas por mulheres (52%). Os homens são maioria nos setores econômicos da indústria da construção civil (96,5%), extrativista mineral (90,2%) e dos serviços industriais de unidade pública (82,8%). Em grau menor, eles também lideram a agropecuária (67,3%) e a indústria de transformação (66,4%). O Mulheres Que Inovam é coordenado pela SPM e pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
 

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